quinta-feira, 9 de junho de 2016

O tempo é a comprimento do movimento entre o eu e a alteridade

O tempo não é algo, não é tangível, nem largo, nem estreito, nem raso, nem profundo; não pode agir sobre as coisas, não pode afectá-las, corroendo-as ou aperfeiçoando-as. Não tem existência autônoma, sua essência é a inconstância do pensar, i.e., do movimento daquilo que nos traz a consciência. 

O tempo é o modo de medir a nossa relação com o cosmos, é uma engenharia mental, um ato sensório-raciocinativo, aplicado para determinar a distância e, consequentemente, o movimento de atração e repulsão entre o eu e a alteridade. O momento existe, é algo tangente. Eu sou, no espaço infindo, o instante de encontro com o mundo; é o método entre a inconciência e a luz da percepção. 

Mas, o tempo é a noção construída nas profundezas do eu por aquilo que me põe a pensar. Aquilo que me transpõe da incognoscibilidade ao cognoscente, do ímpeto à expressão, da potencialidade racional à atividade intelectual. Isso que me faz consciente arbitra a noção elementar cronológica, i.e., a senquencialidade imagética da percepção, para que o eu saiba a diferença entre o si e o ser, entre o todo e a parte, antes, durante e depois da completude. 

O tempo, não é o caso, mas o cálculo sensacional ou racional, a razão métrica entre o eu e o outro, na proporção do movimento que nos permite tengir e a energia modificada. Como, então, o indivíduo parte do nascedouro à morte num processo claramente conduzido pelo tempo? Sim! As marcas do desgaste, da corrosão são ditas marcas do tempo. Contudo, não são! A corrosão não advém com o tempo, mas nosso modo de perceber a inicialização, o crescimento, o desgaste, a corrupção e o fim das coisas, a isso denominamos "tempo".

Porém, ele per se não atua sobre a natureza das coisas, mas subsiste na razão delas, de sorte que se algo deixa de ser, a mensuração da distância e da diferença entre o próprio e a alteridade deixa de ser razoável, muda na percepção, passando a uma paixão da alma, sem valor verdadeiro para a vida, que é o instante de encontro com o mundo, onde o facto é a pura percepção e a realidade é o desejo da razão cosmética...


Melk Vital

Junho, 2016

Nenhum comentário: