terça-feira, 29 de novembro de 2016

Caro amigo

A amizade é uma fonte plácida e perene. Nada, nada muda seu fluxo. Como torrentes, contorna todos os obstáculos e segue invicta.
Estar presente no cotidiano é apenas uma face da amizade, que transpõe a barreira espaço-temporal. Tem raízes profundas, arraigadas na firmeza dos sentimentos mais puros e verdadeiros.
A amizade abriga e consola e nutre a alegria daqueles por ela enlaçados. Como planta frutuosa e resistente às intempéries, a amizade se cultiva de pequeninos encontros e solicitudes.
Não há espaço para cardos, espinheiros e aridez, sua seiva não seca com a calmaria e não se esvai pelo rigidez do tempo e do clima. Amigos são úteis e a sua comunhão revigora e a faz vicejar o melhor de um para com o outro.
É árvore frondosa e sob sua copa os amantes se restauram e cultivam o bem numa contemplação perene.
A amizade reconhece o valor verdadeiro e cria o bem comum dos amantes. Permite e liberta o outro no qual se reconhece e é vivificada. Nasce um amigo no convívio e perdura nos tempos, longe ou perto um amigo é caro, mais caro que o preço da vida.
A contemplação da amizade produz alegria e contentamento. A comunhão é a felicidade compartilhada, é o clímax da fruição e da utilidade. O amigo é caro porque é realmente útil é oferece-se irrestrito e condescendente, porque é sincero e (re)conhece a amiga nas contingências e não se furta à verdade, mas é compassivo e longânimo, crendo sempre e esperando sempre o melhor.
Na amizade não há ignorância. Nela o maior bem é predileção à pessoa dileta. Assim, as almas de dois comungam além do tempo e do espaço e confrontam juntas as amarguras e as dores, buscando sempre o ótimo da compartilhação. Pode-se escolher uma pessoa por predileção e tornar-se amigo dela, e dessa ação deliberada de amar brota amizade cujo cimento é a verdade, pura e simples.
O desejo de ser algo útil para o escolhido, a intenção de se oferecer sem cobranças e sem preconcepções. Desde a aproximação ao aprofundamento nas límpidas águas da amizade há uma história que somente os nela batizados podem compreender e partilhar.
Eis, porque um amigo é tão caro, porque compõe naturalmente a beleza e força da história individual e com isso é a parte compreensível de sua própria vida.
Na amizade a amizade se reconhece como tal, e fora dela não há lembrança da bondade que pode enlaçar os amigados...

Malkah, 5776

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Poesia: desejo e fel

Vindo ao meu encontro
Nosso enlace, um suspiro,
E a prometer o conforto
Da tua boca, o meu respiro:
                                                                Essa voz que me comove.
Buscando sob neblina,
Sem encontrar, contudo,
Destes olhinhos a menina,
Faz, do querer, absurdo,
                                                                     A quem, a razão, pouco absorve.
Dei-lhe por confiança
O atributo mais caro,
Encantar-se da esperança
Como d'um tesouro raro,
                                                                     A quem, a tristeza, remove.
Signo insignificante
Este torpe desejo ao léu,
Sem razão por um instante,
Poema em rusgas e fel,

                                                                     A quem,  o prazer, aprove.

Minha sana loucura
A que, te renove, a alegria,
E da lembrança, a candura,
Rebuçarei a poesia, 

                                                                  A quem, minha alma, move.


Malkah, 5777.

domingo, 13 de novembro de 2016

Favônios

A lua amarela
Sobre o lago prateado
O amante amado
Na face rosada 
Da amada 
Tão bela.

Em noite tão clara
Sob céu pontilhado
A amante amada 
No semblante suave  
Do amante 
 tão belo.

Sob a luz de uma vela
E um lírio no 
Canto
O amado sussurra
Uma canção de amiga
A amante suspira
No prazer
Do instante.

E, o lume prateado 
Sobre plácidas águas
No balanço do encanto
Murmúrio da fonte
Os braços do amado
embalam
A amante.

Fluindo,
Dos lábios da noite,
Favônios do luar
despertam
Nos amantes
Desejos de amar...


Malkah,
1300


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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O véu da formosura


O turvo manto ao entardecer
Cai suave como orvalho. 
Sobre a verdura,
A saudade, o véu da noite, 
Cobre a face
Fulgurante da candura.

Fenece a luz,
Floresce desesperanças!
E, logo, a coberta sem brancura,
Com o doce lume do luar,
De pontilhados e de lembranças,
No firmamento, pele escura
Vêm, do poeta, a embalar,
A tristezura...

No efêmero e solitário,
Silêncio e canção sem agrura,
Vão-se dissipando temores,
Em lindos sonhos,
Todos prazeres, 
No coração
Da ternura,
No leito puro,
Outros amores,
Sob o véu
Da formosura...

Melk Vital,

5777