sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Porto, O Sol do Poeta

Aqui estou onde o sol não brilha,
Não vibra, não entoa.
Não te vejo além d'aqui
E, longe sou...

Cá onde trazem todo o peso
De lembranças que sossobram e adormecem,
Não te vejo aquém d'ali
Pois, te busco sem sessar...

Toda carga despeja indesejada, 
Oprimindo o deque do meu pensamento,
E a ressaca destas vagas que sofregam
No canteiro co'a areia deste deserto,
Pois se velas trazem taciturnas  revelações
E se o tempo de partida já partiu
A quem ali direi a Deus que me feriu?

Se aquem não me vejo nesse porto
E tu longe do meu canto vais
E, se além d'aqui, me vês com olhos turvos
É que aquém d'ali amei-te tanto,
De ventos, velas, vozes de encanto
Por isso, amor amante,
Suprime o poeta, leva-o morto...

Malkah, 5776

Ressentidos versos teus

Fala comigo, porque tua voz
Como os ráios da matina,
Atravessa minha tristeza,
Como a luz, a escuridão do tênue alvorecer.

Lembra-te de mim, pois tua lembraça
Constroi-me a aparência, que agrada
E parece mostrar-te tudo, toda, em mim.

Pensa em mim como penso,
Pois tua memória de mim 
Apaga os rastros da solidão,
Desenha-me no ar a minha imagem de ti

Creia na minha esperança
Que aguarda vigilante o momento,
Que espera não passar a hora,
Que deseja ser real o teu querer.

Canta pra mim e não chores,
Porque a alegria da tua canção me faz chorar
De prazer e de ternura, lavando o zelo ardente,
E encobre o triste o solitário...

Sorria que a formosura de teus lábios
Desvela a candura dos teus beijos mordiscados,
E quando a madorna já não faz sentido,
Dá sentido a estes versos (re)ssentidos
Que são teus. 

Malkah, 5776