terça-feira, 18 de setembro de 2012

fragmento de ontogênese da coisa social

...desde os mais pessoais e íntimos aos de caráter mais coletivo. Em todo, caso vê-se diante de situação de escolha e deliberação. Em se tratando de foro íntimo articula com suas próprias convicções e, atua para fazer valer o seu escolha: essa é a perspectiva do atomismo político de Foucault. Tendo em conta que o indivíduo é parte inexorável do conjunto social histórico-geográfico onde está inserto, é plausível relativizar que a agregação dos históricos, conflitos e interesses individuais constituem conjunto sociocultural do estado nação. No agrupamento sociocultural historicamente constituído há efervescência pujança de atos políticos naturais que em conjunto constituem a polis ou comunidade civilizada praticando: política civil, que supera o interesse pessoal em busca do bem comum. Biologicamente o homem é um animal dotado de instinto de preservação, mas também dotado de intelecto. Quando se agrupa é para autopreservação, isso é de certo modo impulso, mas quando elabora estratégias de ordenação coletiva e define prioridades é ato intelectivo. Então, pode-se dizer que a política do ponto de vista natural é o ato de defesa dos interesses de maneira mais próxima do instintivo; outrossim, do ponto de vista cidadania, é mais racional. Concluímos, portanto, que entre a natureza política e o processo civilizatório do exercício da cidadania há um campo de combate. Por conseguinte, entendo que é na lide travada nesse ético que surge a política institucional, dando origem ao estado de direito personificado no Governo. Numa analogia filosófica, arrisco-me a dizer que o Governo é o corpo, a estrutura tangível, e o Estado é seu animus, a estrutura etérea, invisível e latente. Nesse sentido, o Estado figuraria a substância, o Governo a forma; portanto, são indissociáveis. Razão pela qual, muitas vezes, são confundidos, porque o Governo é que aparece personificando o Estado e atuando em seu nome. Entendo que é por impulso de volição da sociedade civil que nasce o Estado, este por sua vez, pelo ato primordial da política civil, se manifesta fisicamente como Governo, a quem é delegada a defesa dos interesses comuns. E, para consecução de suas prerrogativas é-lhe facultado o Poder, i.e., a potência total de agir, ou mesmo possibilidade de que o humano possa determinar comportamentos do homem. Enfim, o humano se agregou para autoproteção, pensou o Estado, e deste, conformou o Governo, outorgando-lhe o Poder. Tal potência, agindo em nome da sociedade civil, tem na sua ontogênese a incumbência de proteger o interesse comum, para tanto, detém a faculdade da Política Pública, cuja essência é o apaziguamento dos conflitos e a minoração das desigualdades. Contudo, o interesse prevalente, entorpece a criatura monstruosa, simulando naturalidade, pela metaforização da cidadania, subverte o bem comum, agindo como ladrão estacionário, dilapidando os bens civis até à medida de sua capacidade produtiva... E, o ciclo do status (re)constitui as contingências histórico-culturais, intensificando a luta pela sobrevivência. O pensamento humano evolui enquanto reverbera nesse ciclo do status. As contingências consubstanciam espaços culturais historicamente demarcados. É nesse lócus que germina a ideia educação. Não é oriunda de política pública, ao contrário; sua filogênese é o prazer gerado pela cidadania, como prática do exercício da plenitude do direito civil. Não se confunde, nem sequer na aparência, com a escolarização. Educo: é o verbo latino cuja essência é conduzir. Não se pode conduzi alguém pelo vazio, ou pelo nada. Educar pressupõe a ideia de uma cartografia, de um território, onde se passeia, ludicamente, vivenciando a natureza e inteligindo as coisas dela. Esse é o conceito original de educação. Infelizmente o entendimento contemporâneo é de que educação é dever do Estado. De fato, não o é! A escolarização talvez. Educar é privilégio exclusivo da sociedade civil, na sua célula mais primordial. É dever sacrossanto da família; porque nesse contexto é conduzir a vida, conforme John Dewey: a educação não é para a vida ela é a própria vida. É imperativo que cada sujeito social seja imbuído dessa tarefa. É uma questão de preservação da espécie. Primitivamente somos gregários, mas também almados racionais; nossos sentidos nos conduzem, pela percepção; a natureza nos dá exemplo de que somos capazes de aprender. Se o aprender é um potencia natural humana a educação é a potencia que atualiza a aprendizagem, i.e., ajuda-nos a passar da potencia ao ato; atualizar, no sentido aristotélico, passar da possibilidade à ação, que é o sinal mais elementar de vida. Se educar não é prerrogativa do Estado, qual é, pois, o seu papel? É, portanto, prover todos os meios, para que aqueles que têm potencialidade de ensinar como se conduzir pela vida, possam perpetrar o ato educacional; pela ludicidade, pela autenticidade, pela experienci(ação), pela reflexão e, sobretudo, pela utilidade. O homo economicus propugna a maximização da utilidade. Para tanto, o habitat físico da educação formal, a escola, não pode ter caráter punitivo, delimitador, mas libertário e amancipatório, onde o aprendiz seja causa, necessária e suficiente, do processo de desenvolvimento intelectual. Por conseguinte, o papel estatal é alocar recursos e fiscalizar sua aplicação, para consecução dos objetivos da instituição escola. Nesse âmbito a escola é autônoma, gerida pela comunidade educacional, com perspectiva de maximizar o desenvolvimento holístico do aprendiz...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Encantação da valentia


Ando, anda! Cavaleiro sem cavalo
Trovador sem palavra
Mudo cantador,
Que a solidão comigo acompanhada
Numa jornada árida
Em plena luz
Quando a Dulce encantada
Na ilusão desfaz
Minha bravura
Receio o temor e a madrugada
A força da verdade
E sua gravura.
Na oceana areia destas plagas
O ermo é meu norte
Sigo sem prumo
Na corrida da peleja esbaforida
Transpiração e fumo;
A vista território deserdado
Quinhão da liberdade fugidia,
Cadeias de saudade
Lume vagante na obscuridade
Fragor, assobramento, encantação
À luz do dia...
Que termina de repente
Chilreando como serpente
E do veneno da manhã já aturdido
Cavalgo para a noite infinita
E fujo à liberdade à vadia
Que lume, nutre, finge
A valentia.
Quando sem armas, alma e alento,
Confundem-se corpo e  tristeza e pó in mundo.

Maggour Missabbib,

5748